Tati Azzi fala do processo e desenvolvimento da linha de sapatos que é apresentada pela primeira vez na ADÔ JOURNAL.
Criar, explorar, aprender. Três palavras que eu gosto muito e levo como motivação para o meu trabalho como designer, onde atuo em um projeto desde a sua elaboração, do desenvolvimento até o acompanhamento de sua aplicação. Criar, desenvolver, implantar um projeto significa explorar e trabalhar com referências culturais e estéticas, tecnológicas, interdisciplinares e transdisciplinares, saber compreender o objetivo desse projeto, estabelecendo o seu conceito e a sua proposta. E aliado a essas etapas está o aprender, este que é para mim o ganho maior de todo o processo.
Neste novo projeto que decidimos abraçar, aprendi muito. Estou há quase um ano envolvida por cabedais, viras, fachetes de sola. Entendendo que há muita diferença entre uma forma de sandália e uma de botas, apreciando esteiras de produção e o lindo trabalho manual e árduo de se fazer sapatos (não posso deixar de agradecer à consultora, e agora amiga, Meline, uma especialista do setor que me acompanhou nesse processo).
Eu sempre apreciei sapatos, desde os 4 anos, quando calçava as botas de salto da minha avó (quem nunca), passando por terríveis sandálias anabela na adolescência, pelos sapatos pesados e cool na faculdade, até chegar no conforto dos clogs pós maternidade. Afinal, os sapatos nos acompanham em cada etapa – e nova personalidade – da nossa vida (um fato curioso: a primeira vez que eu e a Fê, nos falamos, foi a acerca de uma sandália que eu usava).
Quando me formei em desenho industrial e decidi ter uma marca própria, deixei a vontade de fazer sapatos de lado e embarquei na criação de bolsas, muito pelo fato de ter vislumbrado uma oportunidade maior de fazer diferente em um setor menos competitivo e visado, na época. E desta forma nos consolidamos no mercado, por longos e especiais anos, até que decidimos que era hora de expandir os horizontes e usar nosso conhecimento na abertura de uma nova frente na empresa. Um desejo não só meu, mas de uma legião de clientes da Adô. E pensando sobre isso, vejo que o tempo das coisas (tema principal deste projeto editorial número um) é mesmo algo muito especial.
O desafio maior para essa nova frente foi criar a narrativa para um produto tão desejado e altamente produzido no país. Coube a mim como Diretora Criativa da marca a dupla tarefa de entender as necessidades dos clientes e estabelecer uma relação a partir das minhas preferências estéticas, para que houvesse uma identificação com a marca e para que estes produtos deixassem de ter um caráter apenas utilitário, podendo ser experienciado por meio de sua identidade. Afinal, as bolsas da Adô já são conhecidas e apreciadas e por consequência haveria uma grande expectativa de que os sapatos acompanhassem a mesma narrativa.
Criamos uma coleção inicial com alguns modelos que acreditamos ter as características que os produtos da Adô têm, apelo ético e estético, qualidade, atemporalidade e principalmente, a mesma intenção. Espero que aqueles que experimentarem os sapatos da Adô sintam-se envolvidos pelo cuidado colocado na sua concepção e produção. Batizamos cada um deles com nomes de artistas mulheres de diferentes áreas: Lina, Mira, Collete, Niki, Gunta e outras, que de alguma forma nos tocam e nos inspiram nessa jornada criativa.
Entendo o design como fruto de um processo de codificação da experiência e espero que tenhamos traduzido um pouco disso nessa nova coleção. E que continuemos a criar, explorar e aprender a cada nosso projeto e novo passo da Adô. Obrigada a cada um que nos acompanhou até aqui, vamos juntos!
ITÁLICO E BOLD “Pode existir arte em toda atividade humana, desde que exista um lado inventivo e inovador como condição de sua realização”. (Pareyson)
Tati Azzi, diretora criativa.