Escrevi este texto no dia do meu aniversário e isso me faz pensar sobre a minha relação com o tempo e as pessoas de forma mais intensa. Escuto os versos de “Time”, do Pink Floyd, que encapsulam uma amarga realidade do mundo moderno: estamos todos em uma corrida desenfreada contra o tempo. “E você corre e corre para alcançar o sol / Mas ele está se pondo / Correndo em volta até nascer atrás de você novamente / O Sol é o mesmo, de uma forma relativa / Mas você está mais velho / Com menos fôlego / E um dia mais próximo da morte / Cada ano está ficando mais curto / Parece que nunca tem tempo”.
A presença da falta de tempo me provoca. No mundo do trabalho, é preciso dizer, essa corrida é ainda mais acirrada. O tempo é o bem mais caro para a humanidade, e, paradoxalmente, é o recurso que menos valorizamos, desperdiçando-o em uma incessante busca por “resultados”. Mas, afinal, o que é ser bem-sucedido?
Vivemos em uma sociedade onde a vida digital transformou nossa relação com o tempo de maneiras profundas e muitas vezes perturbadoras. Consumimos conteúdo de forma voraz, aguardamos um carro de aplicativo com impaciência e nos irritamos com a demora de uma resposta no aplicativo de mensagens. Queremos tudo mais rápido, aliás, imediatamente, e essa ansiedade pelo agora nos rouba a capacidade de apreciar o presente. Na busca incessante por eficiência e produtividade, esquecemos de como priorizar nosso tempo. Estamos tão ocupados preenchendo cada minuto com tarefas e compromissos que não nos permitimos uma pausa para respirar, pensar ou simplesmente ser.
A sensação de falta de tempo é, em grande parte, uma construção social. Vivemos em uma era onde estar ocupado é visto como um sinal de importância. No entanto, essa ocupação constante pode nos afastar das coisas que realmente importam. O tempo para si mesmo, para a família, para o lazer e para a contemplação se tornou inacessível para muitos.
Há uma beleza no tempo que frequentemente esquecemos. Ele é a medida de nossas vidas, e também é o tecido que nos permite criar, amar e crescer. Com menos acidez e mais ternura do que Pink Floyd, o nosso Caetano Veloso lembra, em “Oração ao Tempo”, da beleza ao contemplar o tempo com reverência e gratidão. Ele canta: “Compositor de destinos / Tambor de todos os ritmos / Tempo, tempo, tempo, tempo / Entro num acordo contigo.” Esse olhar poético nos oferece uma perspectiva mais otimista, o tempo não precisa ser nosso inimigo.
No final das contas, a chave pode estar em redefinir nosso conceito de sucesso. Talvez a verdadeira realização esteja na capacidade de equilibrar nossas obrigações com a apreciação do presente, de encontrar alegria nas pequenas coisas e de não perder de vista o que nos faz sentir bem para além de uma promoção no trabalho. Pode ser um café com um amigo, um abraço ao chegar em casa, uma caminhada ao ar livre com meu filho, um livro bobo, um final de semana apenas olhando para o céu com a minha mulher. O tempo, com sua infinita paciência, nos dá o poder de transformação enquanto estivemos por aqui.
* Roque Almeida é CEO da Matter&Co.,
o primeiro ecossistema de inteligência de negócios da América Latina.