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Comportamento

por Luiza Voll

Tempo e maternidade.

Talvez este seja o maior experimento sobre o tempo que existe: a chegada de um filho.

Você logo começa contando semanas. Seis, doze, vinte, trinta e oito, ufa! Ele já pode chegar a qualquer momento. Quem já contou semanas na vida?

Aí vem o dia e a hora do parto, que marcam o atravessar de um portal: uma nova pessoa passa a morar com a gente. Em seus primeiros dias altera-se radicalmente o contar das horas. Passamos a viver de três em três: dormir, amamentar, trocar, repetir.

No início do amamentar, o foco está nos minutos: quantos nesse peito? E no outro? O tempo vai passando e nós vamos soltando, pouco a pouco, a ilusão do controle.

Aí então cada mês passa a ser celebrado. Essa passagem simboliza a chegada de habilidades e a despedida de outras fases tão fugazes: a entrega ao sono em cada mamada, horas seguidas de colo, barulhinhos e gestuais apaixonantes. Do nada você olha para seu bebê e percebe: passou.

Tenho pensado que essas marcações do tempo são técnicas intuitivas para fixar ainda mais a intensidade, o amor, o cansaço, o delírio dessa experiência arrebatadora que é viver os primeiro anos de uma criança. Para você ter a consciência plena de que mesmo naquela madrugada em que ela não dorme e o tempo se arrasta, ele está passando, implacável. E que cada mês, semana, dia, hora e minuto é um momento a menos do seu filho sendo um neném. Ele nunca será tão pequeno quanto agora.

Tento nesse período conciliar meus demais desejos junto com as demandas de ser mãe. Falho como nunca falhei antes. Caminho a esmo em um deserto do tempo. É frustrante, mas existe algo como uma ampulheta dentro de mim que, com o escorrer da areia, me diz: não tem problema. Isso que estou vivendo, esse tempo assim, todo con- tado, cronometrado e celebrado, é único.

O resto que se acomode, que procure brechas (e que bom quando isso acontece, cada vez mais). Escuto no meu ouvido a voz doce de incontáveis mães que vieram antes de mim e sussurrou: vai passar. Agarro esse tempo como posso: meço, curto, cheiro, beijo, fotografo e filmo os mínimos detalhes – mas também relaxo. Isso é que é viver. Faço tudo ao meu alcance para não ter a sensação, no fim da festa, que eu nem vi tudo isso passar. Para todo o resto agora não, mas para isso sim, faço questão de estar inteira para presenciar.

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