por Laura Damasceno
Um mês na Europa = um mês em BH?
Será que o tempo passa em ritmos diferentes quando estamos viajando e quando estamos trabalhando? E quando viajamos e trabalhamos ao mesmo tempo?
Olá, meu nome é Laura Damasceno. Sou jornalista de formação, curadora musical por paixão e estrategista de comunicação por vocação (pronto, prometo que as rimas param por aqui. Rs). Estou bastante acostumada a escrever sobre festivais de música, artistas, tendências de marketing, etc… Mas é a primeira vez que me convidam para refletir sobre os temas “tempo” e “viagem”, então vem comigo e vamos descobrir juntos no que isso vai dar.
Toda vez que uma ideia cresce dentro de mim (seja a ideia de mudar de cidade, país, emprego, etc), encontro um jeito de dar vazão a ela. Essa mesma lógica eu aplico a viagens, então toda vez que um destino ganha meu coração, me organizo e faço acontecer. E como na maioria das vezes esse é um processo muito pessoal, costumo definir as datas e roteiros sozinha e só então aviso os amigos que gostaria de encontrar pelo caminho.
Seguindo essa lógica, já passei por mais de 20 países, da Islândia ao Camboja, passando por uma viagem de 40 dias entre o México e o Canadá, várias idas para a Europa, muitos festivais de música e uma “melhor amiga de viagem” polonesa que há 14 anos eu encontro em todas as minhas idas ao velho continente.
Tá, mas e o tempo nessa história? Começo refletindo sobre o quanto a gente muda com o passar dos anos: nas minhas primeiras viagens internacionais, eu queria fazer de tudo, visitar o máximo de países possível, dar check em todos os pontos turísticos, tirar foto de cada detalhe e dormir quando e onde fosse possível. Com o tempo, senti uma serenidade chegando, um desejo crescente por conforto e uma vontade de conhecer por mais dias cada destino.
Pensando na minha relação com o tempo durante cada viagem, vejo que é impossível dissociá-la do avanço da internet. Por mais que ter mapa e tradução simultânea no celular facilite bastante a vida do turista, fato é que o contato frequente com as redes sociais nos sequestra do momento presente e interrompe o “fluxo de encantamento” que novas paisagens e diferenças culturais tem o poder de proporcionar. Isso, sem falar no tempo que gastamos postando conteúdos, lendo e respondendo comentários (em especial no Instagram e no whatsapp).
No último mês de março, eu estava em Portugal e decidi visitar um amigo em Girona, charmosa cidade ao lado de Barcelona. Ao todo, teria menos de 24 horas com ele e para fazer esse tempo durar o máximo possível, me propus a deixar o celular de lado durante a visita. Cheguei na estação de trem por volta das 16h. Passeamos pelo centro histórico, visitamos as muralhas, tomamos um café, eu entrei em algumas lojas, depois saímos para jantar, ficamos até tarde conversando sobre a vida, dormimos, acordamos, passamos numa padaria, nos despedimos e às 10h eu já estava novamente no trem. Valeu cada minuto e o mais impressionante é que a viagem não foi corrida. Fizemos tudo com calma, interagimos com presença e durante aquelas horas vivemos apenas uma realidade e não as várias outras que chegam até nós pela tela do celular.
Eu já tenho, no dia a dia, o costume de evitar fazer postagens instantâneas e de ficar muito tempo no celular quando estou viajando, mas essa pequena experiência radical deixou ainda mais nítida a diferença entre 24 horas offline e 24 horas conectada às redes sociais.
Por fim, mas seguindo esse mesmo raciocínio, vou compartilhar algumas dicas para quem é autônomo como eu e precisa encaixar demandas de trabalho durante as viagens: a primeira é que combinado não sai caro. Ou seja: avise seus clientes e colaboradores sobre os horários em que estará disponível, porque assim você não precisa olhar o celular o tempo todo (e claro, se atente à diferença de fuso horário). A segunda dica é: tente concentrar suas reuniões em um mesmo turno e libere ao menos dois dias da semana para poder imergir na experiência da viagem.
E por último: tente se liberar do trabalho nos últimos dias da viagem, para que você consiga recarregar as energias, limpar sua mente e praticar a presença, o que certamente mudará sua percepção em relação ao tempo de duração (ixi, a rima voltou! hehe) dessa jornada.